2021 não foi um ano fácil e talvez por isso os filmes mais delicados - e reflexivos - tenham marcado mais. Um deles é ‘tick, tick...BOOM!’, estreia do compositor e roteirista Lin-Manuel Miranda na direção, que conta a história de uma estrela em ascensão que se apagou cedo demais. Jonathan Larsson, criador de ‘Rent’, demorou 30 anos para escrever a peça que marcou sua vida e o fez ser notado, uma pena que não conseguiu aproveitar bem o sucesso. ‘tick, tick...BOOM!’ é estrelado por Andrew Garfield, que faz um trabalho brilhante e deve ver um dos favoritos para o Oscar 2022. - Raíssa Basílio.
Não há dúvidas de que ‘Druk: Mais uma Rodada’, amplamente reconhecido na temporada de premiações de 2021, cause certo estranhamento num primeiro contato. Afinal, a trama acompanha um grupo de professores, todos eles amigos há anos, que decide beber doses de álcool antes das aulas. É como um experimento, para entender se aquilo vai aumentar a performance, a alegria e o rendimento. Obviamente, muita coisa dá errado e até temos alguns escapismos para o humor. Mas não adianta: na direção, temos Thomas Vinterberg. Repetindo sua parceria com Mads Mikkelsen após ‘A Caça’, o cineasta busca investigar os dilemas e os problemas do consumo de álcool sem limites -- uma questão real na Dinamarca, onde adolescentes bebem e são incentivados a beber desde muito cedo. Não cai em banalidades, tampouco em um drama sentimental qualquer. Há boas questões sobre vida, masculinidade, ego e escapismos fáceis, sempre com uma atmosfera interessante criada por Vinterberg. E já adianto: além do filme, a sequência final com Mikkelsen dança é uma das melhores cenas do cinema em 2021, cheia de vida e significados por meio de uma única dança. - Matheus Mans.
Alejandro Jodorowsky e David Lynch tentaram, mas só Denis Villeneuve conseguiu cumprir a missão de adaptar uma das histórias de ficção científica mais difíceis da literatura. A obra de Frank Herbert - publicada em 1965 - inspirou ‘Star Wars’ e tantas outras produções, só conseguiu chegar ao cinema com toda sua grandiosidade em 2021. ‘Duna’, de Villeneuve, pode até ser um filme um pouco arrastado para alguns públicos, mas quem está acostumado com o tom do cineasta - depois de ‘A Chegada’ e ‘Blade Runner 2049’ - não vai ver problema nenhum no ritmo do longa. É uma produção longa, mas a trama conseguiu ser bem adaptada e é um dos melhores filmes de 2021. - Raíssa Basílio.
Em cartaz nos cinemas - clique no título do filme para encontrar o link para a compra de ingressos. Spielberg é impecável em seu trabalho na nova versão de ‘Amor, Sublime Amor’: ao mesmo tempo em que ele é, dentro do possível, fiel ao material original - uma versão de ‘Romeu e Julieta’ que se passa no bairro de Upper West Side, de Nova York, com Capuletos e Montéquios substituídos por imigrantes porto-riquenhos e descendentes de imigrantes europeus em meados dos anos 1950 - o cineasta traz toda a sua linguagem cinematográfica, a sua forma única de, por meio de imagens, ressaltar emoções, expressões e acontecimentos. O diretor, porém, promove um twist interessante: adiciona uma camada maior (em relação a adaptação de 1961) de crítica social, ressaltando a gentrificação e deixando ainda mais claro que aqueles jovens não são inimigos entre si, mas sim vítimas de engrenagens sociais muito maiores que todos nós. Rachel Zegler está ótima como Maria, enquanto é extremamente belo e tocante ver Rita Moreno (da versão original) em cena. Porém, é Ariana DeBose, como Anita, quem realmente rouba a cena. - Renan Martins Frade
Eu me tornei fã de musicais há pouco tempo e a princípio achei que fosse odiar ‘Annette’, para minha surpresa se tornou um dos meus filmes favoritos de 2021. O longa é um fruto da mente dos músicos Ron e Russell Mael, da banda de pop rock Sparks, com a direção de Leos Carax - do peculiar ‘Holy Motors’. Aparentemente, essa é a fórmula para um musical que foge de todos os clichês que Hollywood inseriu dentro do gênero. Um relacionamento tóxico é o fio condutor da história, estrelada por Marion Cotillard (‘Piaf’, ‘A Origem’) e Adam Driver (‘História de Um Casamento’), que é ainda mais abalado com a chegada de um bebê, a Annette. Um filme diferente, inesperado e, ainda assim, consegue despertar a curiosidade para mais narrativas que fujam de padrões. O longa traz inspirações no trabalho de cineastas como Jean-Luc Godard e em ‘Os Guarda-Chuvas do Amor’, de Jacques Demy. - Raíssa Basílio.