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Crítica de ‘Uma Noite em Haifa’: um olhar sobre a sociedade em Israel

Haifa é uma cidadezinha litorânea de Israel que é uma espécie de oásis social. Afinal, o local é conhecido por permitir uma coexistência “pacífica” entre judeus e árabes, deixando de lado, na medida do possível, os conflitos que carregam esse canto do Oriente Médio. Mas será que as diferenças sociais realmente ficam, magicamente, do lado de fora? Será que é só apertar um botão e tudo se finda? É isso que o israelense Amos Gitai discute em Uma Noite em Haifa.

Estreia no streaming nesta quarta-feira, 27 de setembro, o longa-metragem se passa integralmente em um bar/galeria da cidade de Haifa, com personagens que vão se desencontrando e encontrando a partir de uma exposição que começa a exibir imagens políticas da região em suas paredes. Em destaque, principalmente o fotógrafo Gil (Tsahi Halevi), dono daquelas imagens, e Laila (Maria Zreik), a curadora da exposição e responsável por organizar o espaço.

Amos Gitai, um observador do falso e do real em Uma Noite em Haifa

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Gitai, o cineasta que comanda essa espécie de teatro em um único ambiente, mas com diversos tempos e momentos, continua habilidoso com a câmera mesmo aos seus 72 anos. É claro que boa parte de sua inventividade, ousadia e criatividade não acompanhou — é esperado que qualquer criador se torne mais conservador no estilo e até nas histórias conforme fica mais velho –, mas ainda há elegância na forma em que ele passeia por essa narrativa.
Haifa quer ser uma cidade mais igual. Mas será que é mesmo? (Crédito: Synapse)
Acompanhado com a firmeza poética do diretor de fotografia Eric Gautier, Gitai faz questão de que nós, espectadores, tenhamos a sensação de que tudo ali é uma grande peça de teatro filmada. Sabe Asteroid City, novo longa-metragem do diretor Wes Anderson que é sobre um programa de TV falando sobre uma peça teatral ficcional? É algo bem similar com Uma Noite em Haifa: o cenário é um tanto quanto artificial, exagerado, como se fosse propositadamente falso. Li por aí críticos de cinema reclamando que o roteiro do filme, assinado por Marie-Jose Sanselme (Terra Prometida), é artificial, pouco natural. Pode até ser — alguns diálogos não conseguem traduzir verdade e alguns personagens estão sobrando na história, como a subtrama de um casal gay passando pelo espaço. Ainda assim, porém, Gitai usa isso ao seu favor, criando esse cenário teatral. O que seria Haifa, afinal, como uma espécie de peça em meio ao caos real?

Um filme em formato de peça ou uma peça em formato de filme?

Logo na primeira cena do filme, por exemplo, Gil é furiosamente agredido. O marido de Laila, que financia todo aquele espaço da galeria, precisa ser revistado antes de entrar em cena. O mundo real, do lado de fora, é violento, agressivo e ainda bastante intolerante. Não é normal que as coisas mudem radicalmente apenas pela entrada em um outro ambiente: é esse o principal comentário do cineasta, indicando que tudo não passa de uma grande comédia social. Falta um tiquinho de habilidade aqui e ali, principalmente no trabalho de deixar essa ideia (genial, convenhamos) mais clara e evidente em uma narrativa que parece muitas vezes engessada. É aquilo que falamos antes: Gitai, que teve seu ápice em Kedma e Laços Sagrados, está um poucos mais enferrujado aqui. Falta um pouco de sensibilidade e linguagem aqui e acolá. Mas também falta, ao espectador, um pouco de boa vontade para entender melhor o cineasta.
As mulheres são as protagonistas de Uma Noite em Haifa (Crédito: Synapse)
Pequenas piscadelas aqui e acolá, como o trem que passa incessante, o passeio da câmera e a falta de consistência temporal da narrativa, são deixas para que Uma Noite em Haifa cresça em comentário. Está longe de ser um filme apenas sobre uma cidade “mais igual” em Israel. É, na verdade, Amos Gitai novamente questionando as bases sociais do país, que parece encontrar meios para justificar certas ações, como Haifa, um oásis que deveria ser o convencional.

Uma Noite em Haifa está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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