‘MaXXXine’: conheça as referências ao cinema no filme ‘MaXXXine’: conheça as referências ao cinema no filme

‘MaXXXine’: conheça as referências ao cinema no filme

‘MaXXXine’, protagonizada por Mia Goth e dirigida por Ti West, emprega referências a vários clássicos da história do cinema

Lalo Ortega   |  
3 de julho de 2024 11:00

A Trilogia X, dirigida por Ti West e protagonizada por Mia Goth, alcança sua conclusão com MaXXXine, que chega aos cinemas brasileiros neste 4 de julho. E já no trailer (que você pode ver acima), você notará que o filme contém muitas referências a outros clássicos do cinema, especialmente dentro do gênero de terror.

Algumas são mais evidentes do que outras, mas todas contribuem para uma narrativa que, em conjunto com X e Pearl, utiliza o terror para desconstruir as contradições da fama no mundo feminino.

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A seguir, explicamos as principais referências de MaXXXine. Atenção, haverá spoilers ao longo do texto.

As referências ao cinema em MaXXXine

Psicose (1960), de Alfred Hitchcock

Assim como X inclui acenos a O Massacre da Serra Elétrica e Pearl a O Mágico de Oz, MaXXXine inclui referências a outros grandes clássicos do cinema. No caso do fechamento da trilogia, a principal é Psicose (Psycho), o thriller de terror psicológico de Alfred Hitchcock.

No filme, situado em 1985, Maxine Minx (Mia Goth) é uma atriz de cinema adulto que quer dar o salto para fazer cinema “de verdade”. Ela consegue um papel em A Puritana II, sequência de um filme de terror de baixo orçamento, bem-sucedido no circuito de vídeo. Durante certa cena com a diretora, Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), Maxine visita os estúdios da Universal e até visita o famoso set do Motel Bates, enquanto Elizabeth menciona o legado do filme de Hitchcock na cultura americana (poder-se-ia argumentar que O Mensageiro do Diabo, outro filme relevante, o fez antes, mas não foi nem remotamente tão bem-sucedido quanto Psicose).

Por que Psicose? O filme dialoga com os temas da Trilogia X. Dentro da história, Elizabeth argumenta que o clássico de Hitchcock obrigou a sociedade americana a olhar suas contradições de frente no espelho. Em vez de o antagonista ser um monstro sobrenatural, era um ser humano como todos, Norman Bates (Anthony Perkins), em quem coexistem uma devoção submissa pela mãe e uma misoginia puritana e assassina (Bates, lembremos, mata a mãe e passa a se passar por ela).

MaXXXine se passa no auge do “Pânico Satânico” da era Reagan e retrata protestos que acusam Hollywood de seduzir e perverter as mulheres. Ao mesmo tempo, atrizes pornográficas e trabalhadoras sexuais são assassinadas nas ruas da cidade e parece não importar muito. Uma contradição entre o ideal de uma fama “clássica” e conservadora da era dourada de Hollywood e o moralismo ao qual são submetidas as trabalhadoras sexuais, ironicamente igualmente famosas.

A referência de MaXXXine ao Psicopata de Hitchcock é simbólica (Crédito: Universal Pictures/A24)
A referência de MaXXXine ao Psicopata de Hitchcock é simbólica (Crédito: Universal Pictures/A24)

Na trilogia, Maxine e a própria Mia Goth encarnam essa dualidade: a atriz interpreta também Pearl, a jovem desiludida e reprimida que se torna assassina. Na cena que faz alusão a Psicose, Maxine vê alguém na janela da residência Bates: a idosa Pearl.

Outro aceno a Hitchcock no final do filme é quando Maxine é caracterizada como as arquetípicas “loiras de Hitchcock”. Na trilogia, Pearl odeia as loiras.

Kevin Bacon = Jack Nicholson

No filme, enquanto suas colegas atrizes são assassinadas, Maxine é perseguida por uma figura desconhecida que tenta chantageá-la com informações sobre o assassinato no Texas (que aconteceu em X). Essa pessoa a contata por meio de um investigador particular, chamado John Labat (Kevin Bacon).

Essencialmente, Labat é caracterizado como uma cópia de J. J. “Jake” Gittes, o detetive interpretado por Jack Nicholson em Chinatown (1974), de Roman Polanski. Esse filme, um neo-noir, também trata de um investigador que tenta esclarecer um assassinato. Em um ponto de MaXXXine, o personagem de Bacon também é ferido no nariz, como o de Nicholson.

Kevin Bacon faz uma “Chinatown” (Crédito: Universal Pictures/A24)
Kevin Bacon faz uma “Chinatown” (Crédito: Universal Pictures/A24)

Essa não é a única referência a Jack Nicholson em MaXXXine. Em outra cena, onde Labat procura a protagonista em um banheiro, ele a chama dizendo “Come out, come out, wherever you are!”. A frase também é dita por Nicholson em O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick. Foi utilizada, também, em filmes como Cabo do Medo (1991), de Martin Scorsese.

A própria escolha de Kevin Bacon para o elenco ecoa os temas do filme. Bacon saltou à fama por seu papel principal em Footloose: Ritmo Louco, clássico dos anos 80 sobre um jovem que tenta anular a proibição da dança em uma cidade conservadora dos Estados Unidos.

Influência do giallo

Não podemos citar um filme específico – embora Prelúdio para Matar (1975), de Dario Argento, seja um bom exemplo. No entanto, é evidente que MaXXXine toma inspiração do giallo, subgênero dos thrillers de terror italianos extremamente estilizados, muito populares entre os anos 60 e 80.

Em particular, a caracterização do vilão: as figuras anônimas, com gabardinas, luvas de couro e rostos ocultos eram arquetípicas do giallo, e aqui o antagonista aparece da mesma forma.

Um típico vilão giallo em Six Women for the Killer, de Mario Bava (Crédito: Emmepi Cinematografica)
Um típico vilão giallo em Six Women for the Killer, de Mario Bava (Crédito: Emmepi Cinematografica)

Esses vilões costumavam cometer crimes de natureza psicosexual e tinham vínculos pessoais com algum dos personagens principais (as vítimas, geralmente mulheres, eram brutalmente assassinadas). As revelações de suas identidades costumavam ser o grande giro dessas películas. Não diremos mais…

Jamie Lee Curtis (e as final girls)

Depois de conseguir o papel em A Puritana II, Maxine se vangloria com seu amigo Leon (Moses Sumney), cinéfilo e empregado de videoclube. Retoricamente, ela pergunta quantas estrelas de Hollywood estrearam no cinema de terror antes de alcançar a fama. Ele responde enumerando Jamie Lee Curtis, John Travolta, Demi Moore e Brooke Shields.

Está correto: Travolta estreou em A Chuva do Diabo (The Devil’s Rain, 1975) e Carrie, a Estranha (Carrie, 1976). Shields estreou em Alice, Doce Alice (Alice, Sweet Alice, 1976). O segundo filme de Moore foi Parasite (Parasite, 1982). No entanto, a referência mais significativa de MaXXXine no conjunto é a Curtis.

Seu personagem no slasher Halloween (1978), Laurie Strode, é considerado a arquetípica final girl, ou garota final, submetida a níveis geralmente horripilantes de violência e sofrimento antes de prevalecer sobre o vilão, Michael Myers – ele próprio, uma evolução tanto de Norman Bates quanto dos vilões do giallo.

O Halloween deu início a diversas tradições do terror slasher, incluindo as "final girls" (Crédito: Compass International Pictures)
Halloween deu início a diversas tradições do terror slasher, incluindo as “final girls” (Crédito: Compass International Pictures)

Um dos tropos perpetuados – e mais criticados – dos slashers é fazer parecer que a liberação sexual (ou o inconformismo com a moral de seu tempo, em geral) é uma sentença de morte. Em Halloween, Myers mata sua irmã (cuja promiscuidade é insinuada), e Laurie sobrevive a ele anos mais tarde por ser seu oposto.

Desde X, a trilogia já oferece uma abordagem diferente das final girls. MaXXXine chama atenção para esse fato.

Theda Bara e os símbolos sexuais

Em uma cena de MaXXXine onde os personagens estão na Calçada da Fama de Hollywood, há um momento muito breve onde um personagem pisa um cigarro sobre uma das estrelas emblemáticas. Qual o nome nela? Theda Bara.

É uma referência significativa, pois Bara foi, durante a época do cinema mudo, uma atriz famosa e polêmica. Ela foi considerada um dos primeiros “símbolos sexuais” de Hollywood, popular por seus papéis de mulheres dominantes, exóticas e sexualmente liberadas (e geralmente representadas na tela com pouca roupa). Isso antes da implementação do Código Hays, claro.

Theda Bara em uma foto de Cleópatra, 1917 (Crédito: Fox Studios)
Theda Bara em uma foto de Cleópatra, 1917 (Crédito: Fox Studios)

Um de seus papéis mais famosos foi em Cleópatra de 1917, que foi tão polêmica quanto bem-sucedida por sua representação liberal do corpo feminino. O filme foi considerado obsceno demais após a posterior implementação do Código Hays e, depois do incêndio nos estúdios da Fox em 1937, está praticamente perdido.

Theda Bara deixou a Fox em 1919, casou-se com um diretor de cinema em 1921 e se retirou do cinema em 1926, ao fracassar em recuperar sua fama.

Nunsploitation

Embora também não possamos apontar um caso específico, MaXXXine faz referência ao nunsploitation, um subgênero do cinema de terror e exploração popular (e polêmico) na Europa entre os anos 70 e 80. Como sugere seu nome em inglês, esses filmes incluíam tramas e imagens exploradoras de freiras em contextos de violência e sexo.

A filmagem de The Puritan II em MaXXXine alude à nunsploitation (Crédito: Universal Pictures / A24)
A filmagem de The Puritan II em MaXXXine alude à nunsploitation (Crédito: Universal Pictures / A24)

Embora como tal não vejamos filmes de nunsploitation em MaXXXine, A Puritana e sua sequência, A Puritana II, parecem seguir essa linha, pois são protagonizadas por uma garota pertencente a esse grupo religioso (interpretada por Lily Collins). O sucesso do filme é, em parte, o que instiga os protestos contra Hollywood por parte de grupos conservadores.

Buster Keaton

Em uma das cenas do primeiro ato de MaXXXine, a protagonista é perseguida por uma figura em um beco. Depois, revela-se que é um dos famosos imitadores que abundam no Hollywood Boulevard. Para os espectadores menos conhecedores, pode ser difícil identificá-lo, pois Maxine só o chama pelo primeiro nome: Buster.

Trata-se de um imitador de Buster Keaton, uma das grandes estrelas da comédia do cinema mudo de Hollywood, junto com Charlie Chaplin e Harold Lloyd. Apenas digamos que seu destino nas mãos de Maxine, definitivamente, não o deixa mudo.

MaXXXine chega aos cinemas neste 4 de julho. Compre seus ingressos para assistir nos cinemas.

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