Globo de Ouro entra em xeque com boicote de indústria, mídia e atores
Tom Cruise, Netflix, Amazon Studios e NBCUniversal se posicionaram contra a premiação do Globo de Ouro, alvo de críticas pela falta de diversidade
Foi no início deste ano que o Globo de Ouro, premiação da Associação de Imprensa Estrangeira (HFPA, da sigla em inglês), enfrentou críticas pesadas do Los Angeles Times. Na época, o jornal apontou falhas na forma de escolher indicados e selecionados, revelando um sistema de corrupção na votação, além de grave falta de diversidade entre membros.
Agora, passada a premiação de 2021, o Globo de Ouro começa a sofrer os efeitos dessas deficiências que o tornam o prêmio mais controverso em Hollywood. Depois de anunciar que tomaria medidas para melhorar esses aspectos apontados pelo LA Times, a premiação passou a ser alvo de um boicote generalizado pela indústria norte-americana do entretenimento.
Primeiramente, tomando a dianteira, Netflix e Amazon anunciaram que não mais participarão da premiação. "Não acreditamos que as políticas propostas, particularmente quanto ao tamanho e rapidez do aumento de número de membros, resolverá desafios de diversidade sistêmica e inclusão da HFPA", explicou Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, em comunicado.
Ao Hollywood Reporter, a Amazon Studios seguiu o mesmo caminho. "Não estamos trabalhando com a HFPA desde que os problemas foram levantados pela primeira vez e, como o resto da indústria, estamos esperando por uma solução sincera e significativa antes de prosseguirmos", disse Jennifer Salke, chefe do estúdio, comentando o caso da HFPA.
Atores contra o Globo de Ouro
Depois desse primeiro baque, começou uma avalanche de empresas de Hollywood, além de grandes nomes do cinema e da televisão, boicotando o prêmio. No Twitter, o ator Mark Ruffalo ('Vingadores: Ultimato'), que faturou o Globo de Ouro em 2021 com a minissérie 'I Know This Much Is True', disse que não se sente feliz por ter o prêmio na estante de casa.
Já Scarlett Johansson foi mais incisiva. "A HFPA é uma organização que foi legitimada por nomes como Harvey Weinstein", disse. "A menos que haja uma reforma fundamental necessária dentro da organização, acredito que é hora de dar um passo atrás na HFPA e nos concentrar na importância e na força da unidade dentro de nossos sindicatos e da indústria como um todo".
Por fim, Tom Cruise decidiu devolver seus três prêmios do Globo de Ouro, de Melhor Ator por 'Jerry Maguire' e por 'Nascido em 4 de Julho' e o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por 'Magnólia'. De acordo com o site Deadline, o astro mandou seus troféus de volta para a sede da HFPA. Agora, a indústria está na expectativa de que outros atores e atrizes sigam o gesto.
Fora do ar
Mas apesar desses gestos e pedidos de boicote ao Globo de Ouro, pouca coisa é mais significativa do que a decisão da rede de televisão NBC em não transmitir a entrega da premiação em 2022. A emissora, que é a principal fonte de renda da HFPA, informou a decisão na tarde desta segunda-feira. Até o momento, a associação que organiza a premiação não se posicionou.
"Continuamos acreditando que a HFPA está comprometida com uma reforma significativa. Mas uma mudança desta magnitude requer tempo e trabalho e acreditamos que a HFPA precisa de tempo para fazê-lo bem", informou a NBC em um comunicado enviado à imprensa, explicando a decisão. Por isso a "NBC não transmitirá o Globo de Ouro em 2022".
Com isso, o Globo de Ouro fica praticamente sem saída. Sem apoio da indústria, sem uma fonte de financiamento e sem qualquer tipo de veiculação na mídia, a HFPA precisa encontrar meios urgentes de se transformar e colocar as mudanças anunciadas na última semana em prática o quanto antes -- como aumento de membros de minorias.
Entenda a polêmica
Atualmente, dentre os 86 membros ativos da HFPA, nenhum é negro. E há dez anos não um integrante que se declare negro no quadro de votantes do Globo de Ouro.
Primeiramente, com as mudanças, o conselho da HFPA deve admitir vinte novos membros até o final de 2021, com foco nas minorias — negros, asiáticos, latinos, dentro outros. A meta final da organização, de acordo com o que foi aprovado pelos membros na tarde de hoje, é ter pelo menos 50% de seus integrantes vindos de minorias, diminuindo a falta de pluralidade.
De acordo com reportagem do Hollywood Reporter, uma série de medidas serão tomadas. Para facilitar essa transformação, a instituição deixa de exigir que os membros do HFPA residam no sul da Califórnia, ampliando a elegibilidade para qualquer jornalista qualificado que viva nos Estados Unidos e trabalhe para um meio de comunicação estrangeiro.
Por fim, também passa a aceitar jornalistas que trabalhem em mídias digitais, assim como abre mão da exigência de que os integrantes sejam apadrinhados por outros membros da HFPA — algo que acaba criando a sensação de que a instituição é apenas um clube de amigos cinéfilos. Também não há mais limite de novos membros aceitos a cada ano.
No entanto, como vimos, integrantes importantes da indústria do cinema e da TV acreditam que as medidas anunciadas ainda são poucas e demandam mais ações por parte da associação.
Sem o Globo de Ouro, a própria existência da Associação de Imprensa Estrangeira se veria ameaçada.
Crise do Globo de Ouro
Enquanto isso, outras decisões tentam melhorar a imagem da instituição. Afinal, há anos, o Globo de Ouro é conhecido pelos jabás e presentes distribuídos aos votantes, às vezes por baixo dos panos, por produtoras e grandes distribuidoras. Assim, a HFPA acaba criando a sensação, muitas vezes, de que certas produções não foram indicadas ao prêmio por mérito.
Agora, “todos os integrantes atuais serão obrigados a atender aos mesmos padrões dos membros entrantes para o recredenciamento”, assim como terão que aderir a “um novo código de conduta”. Este código de conduta determinará que os membros não aceitem mais itens promocionais e visa abordar melhor a “estrutura da viagem da imprensa” e “procedimentos de entrevista coletiva, incluindo consultoria com publicitários”.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
Outras notícias
"A pressão é muito real", diz Jeremy Allen White sobre 3ª temporada de 'The Bear'
Em coletiva de imprensa, elenco de 'The Bear' falou sobre luto, pressão de novas temporadas e futuro
'Agatha Desde Sempre': saiba tudo sobre a série o spin-off de 'WandaVision'
Após mudar de título quatro vezes e ser adiada, série 'Agatha Desde Sempre' finalmente começa a ganhar seus primeiros detalhes; confira
Crítica de 'Como Vender a Lua': quando o romance chega no marketing
Sem jeito e sem propósito, 'Como Vender a Lua' fala de marca e divulgação enquanto tropeça nos próprios conceitos do marketing