Crítica: ‘O Tarô da Morte’ é ruim demais e nem a comédia espontânea consegue salvar
Foi um tanto impressionante observar a sessão de O Tarô da Morte, que aconteceu para convidados alguns dias antes da estreia do filme, nesta quinta, 16. Dirigido a quatro mãos por Spenser Cohen e Anna Halberg, que escreveram pérolas como Os Mercenários 4 e Moonfall, o longa conta a história do tarô que assombra quem ousa mexer com as cartas.
Funciona assim: uma pessoa lê as cartas (Harriet Slater, no papel de Haley) de tarô para entender o que o zodíaco está reservando para cada uma delas – no caso, os amigos dessa protagonista. E é a carta em destaque na leitura que vai determinar a forma que a tal pessoa será morta futuramente: pelo Enforcado, pelo Louco, pelo Mágico e por aí vai.
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Nos primeiros 20 minutos do longa, deu para sentir uma aura de tensão e apreensão no público sentado ao meu redor. As pessoas levavam sustos de pequenos jumpscares espalhados pela trama, riam de nervoso quando alguma assombração se espreitava. Era o esperado de um público que está assistindo a um filme que tem como propósito assustar. Só que, aos poucos, ficou evidente como o público começou a não ligar mais o que estava passando na tela. Um rapaz à frente da minha poltrona logo passou a escutar mensagens de áudio, uma pessoa ao lado não saía das redes sociais. Duas pessoas só conversavam.
Isso não é apenas sintoma de um novo público que simplesmente não tem mais paciência de ficar em uma sala de cinema sem checar o celular por 100 minutos. É, também, sinal do que o filme tem a oferecer: a trama é exageradamente episódica, compartimentalizada para que os personagens morram em sequência, um atrás do outro, sem nenhuma ligação. É diferente do que vemos em slasher como Pânico, Sexta-Feira 13 e afins, quando temos um único assassino dando unidade às mortes que se acumulam. Aqui, sem termos informações claras do que está acontecendo, parece apenas um apanhado de ideias de como matar personagens – algo como Premonição, ainda que sem a graça da franquia. Além disso, os personagens são pouco críveis. Sabe quando aquela pessoa, durante uma invasão à residência, decide ir averiguar no porão o que está acontecendo? Sozinha? São decisões assim, tomadas o tempo todo, sem qualquer preocupação com o roteiro, que vão minando a qualidade do longa-metragem. Na metade, já não há mais vontade de estar ali. É interessante notar como Cohen e Halberg chegam a se preocupar em criar uma mitologia por trás do que está acontecendo ali, mas também segue por um caminho terrivelmente falho – invocando uma história passada na Hungria no século XVIII. Não é interessante.
Por fim, o filme também falha naquilo que Premonição conseguiu fazer tão bem: criar mortes visualmente interessantes em cena. Com o destino de seus personagens selado, atores como Jacob Batalon (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa) e Avantika (Meninas Malvadas) não têm conteúdo para trabalhar, ficando à mercê da criação dos diretores. De todas as mortes, só uma (em um elevador) se aproxima de ser minimamente interessante – e que é absolutamente arruinada com um final tosco, bobo, covarde. As outras ou se alongam demais ou os diretores não conseguem ir com tudo na criação. Enfim: O Tarô da Morte é um filme sem vida, que fica se entrelaçando em ideias pouco originais de artefatos místicos poderosos e maldições de antepassados para tentar surpreender. A pouca habilidade narrativa e visual dos diretores/roteiristas, porém, coloca tudo a perder, naquele que deve ser um dos piores filmes de 2024. Nem pra dar risada.
O Tarô do Mal estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 16 de maio.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.