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Crítica: ‘Back to Black’ segue caminhos tortuosos para falar sobre Amy Winehouse

“Quero ser lembrada pela minha voz”, diz Amy Winehouse, interpretada por Marisa Abela, na cinebiografia Back to Black que estreia no Brasil nesta quinta, 16. É um aviso, uma declaração, que, para estar no começo do filme, parece ter peso na trama – será que a diretora Sam Taylor-Johnson (50 Tons de Cinza) vai focar no peso musical da inglesa?

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Não é isso, porém, que encontramos nos longos 122 minutos do filme. A voz de Amy é a última coisa a brilhar aqui. As drogas, a obsessão, os relacionamentos: tudo isso passa na frente no texto de Matt Greenhalgh (de O Garoto de Liverpool, também dirigido por Taylor-Johnson), que parece não saber o que priorizar em uma vida curta, mas intensa.
Abela transita entre momentos inspirados e outros que se aproximam de imitação (Crédito: Universal Pictures)

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Nós, como espectadores, começamos a acompanhar a jornada de Amy quando ainda era uma desconhecida, cantando Fly Me to the Moon na sala de estar com sua família. Aos poucos, porém, o sucesso começa a entrar em sua vida e sua rotina, começando em seu bairro, partindo para toda a Inglaterra e chegando, enfim, ao mundo. Back to Black, porém, nunca valoriza exatamente os passos musicais da personagem, mas acaba quase cedendo espaço ao que as câmeras dos paparazzi tanto queriam ver: a intimidade dela, principalmente o relacionamento com Blake (Jack O’Connell) e as drogas.

Back to Black: a falta de tato

Há quem diga que não há problema uma cinebiografia de Amy Winehouse focar em tais aspectos, já que era a vida dela e seus problemas que norteavam a criação musical da artista. Mas não é bem assim. Primeiro que Sam Taylor-Johnson quase nunca tenta sequer trazer um único momento dela compondo – as músicas simplesmente pipocam no palco. Fica a cargo do público, assistindo aquele espetáculo decadente regado a drogas e obsessões, fazer as conexões. Evita didatismo, mas fica faltando sensibilidade na trama. Outro ponto, que li em alguns textos que defendem o longa, é como esse relacionamento com Blake e o uso de drogas foram determinantes para a morte da cantora e por isso merecem destaque. Isso é óbvio. Mas desde quando a morte deve ser o ponto focal de uma cinebiografia, principalmente de um artista assim? O foco de Elvis não é a overdose de medicamentos, por exemplo.
O palco é a alegria e o desespero de Amy Winehouse em Back to Black (Crédito: Universal Pictures)
E tudo fica ainda mais atrapalhado pela falta de conexão emocional em tudo – entre Amy e o pai, entre ela e seu par romântico, entre ela e o público. Com Blake, por exemplo, nunca há profundidade no relacionamento: eles se veem uma vez e ela logo fica perdidamente apaixonada pelo rapaz. Parece obsessão, não exatamente amor. Será que foi isso mesmo? Fora toda a relação com as drogas. O filme começa com Amy falando que nunca usaria uma droga mais pesada, como cocaína. Logo depois, surge o crack na sua vida – como? Back to Black, assim, é uma cinebiografia que falha terrivelmente em sua tentativa de colocar Amy Winehouse na tela, ficando menos preocupado com a música da artista e mais com as picuinhas e problemas de foro íntimo – que devem estar no filme, mas que nunca poderiam ser o principal assunto. É desrespeitoso, deselegante, sem tato e sem força. O documentário Amy continua com o posto de melhor retrato da artista, intocável, no topo.

Back to Black estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 16. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

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Matheus Mans

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