Crítica de ‘Como Vender a Lua’: quando o romance chega no marketing Crítica de ‘Como Vender a Lua’: quando o romance chega no marketing

Crítica de ‘Como Vender a Lua’: quando o romance chega no marketing

Sem jeito e sem propósito, ‘Como Vender a Lua’ fala de marca e divulgação enquanto tropeça nos próprios conceitos do marketing

Matheus Mans   |  
11 de julho de 2024 23:22

Poucas palavras são mais distantes de “romance” do que “marketing”. A primeira palavra é vermelha, quente, improvável e imprevisível. A segunda é burocrática, pálida, racional. Difícil, bastante difícil, pensar em algo para uní-las, tornando-as compreensíveis. Mas é bem isso que tenta fazer o fraco Como Vender a Lua (Fly me to the Moon), estreia desta quinta, 11. É uma produção original da Apple, mas que ganhou uma janela de lançamentos no cinema pela Sony.

Dirigido por Greg Berlanti, do bobinho Com Amor, Simon, o longa-metragem mergulha na época em que os Estados Unidos estavam se preparando para ir até a Lua. Mais do que uma missão espacial, que já vimos em filmes como Estrelas Além do Tempo e O Primeiro Homem, a situação é toda uma jogada de marketing espetacular — afinal, só com boa divulgação do evento (que custou muito aos cofres públicos) é que o impacto realmente vai surtir efeito.

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E é aí que entram os dois personagens principais do longa-metragem. De um lado Kelly (Scarlett Johansson), uma especialista em marketing que é contratada pela NASA para deixar o pouso na Lua mais pop, mais interessante, mais atrativo. Do outro, Cole (Channing Tatum), o racional e nerd diretor de lançamentos da agência espacial americana.

Como Vender a Lua: entre Sparks e Kotler

Como Vender a Lua, assim, é um improvável filme que mistura essas duas palavras que nem fazem sentido juntas. Amor e marketing. Berlanti, a partir de um roteiro escrito pela estreante Rose Gilroy, faz um filme com adjetivos bem talhados, como “bobinho” e “simpático”. O romance que surge a partir do inesperado, todo esse circo montado ao redor da ida à Lua, tem lá sua graça, apesar da falta de química de Tatum e Johansson. Dá para tirar algum sorriso.

Não basta apenas ter dois bonitões em Como Vender a Lua; é preciso ter química (Crédito: Sony Pictures)
Não basta apenas ter dois bonitões em Como Vender a Lua; é preciso ter química (Crédito: Sony Pictures)

Mas não dá para pensar em muitas reações além disso. O longa-metragem até tem um final bastante inspirado, com uma cena genial envolvendo um gato preto e uma tensão com o personagem vivido por Woody Harrelson, mas… O que mais? Ao longo de seus inacreditáveis 132 minutos (dava pra ser 90!), o filme fica andando em círculos mostrando a incompatibilidade entre Kelly e Cole e, principalmente, todos os artifícios usados pela personagem para causar.

Dá para pensar que estudantes, profissionais e entusiastas do marketing vão se divertir com as artimanhas de Kelly — o filme todo parece uma encenação de uma célebre frase de Philip Kotler, de que “o marketing está se tornando mais um batalha baseada em informações do que uma batalha no poder de vendas”. No entanto, o público em geral não encontra substâncias em uma história que parece dar risinhos e tapinhas nas próprias costas o tempo inteiro. Não há espaço para nada de diferente além do romance que, como já falamos, peca principalmente pela falta de química.

Publicidade no cinema

E é aí que voltamos para outra reflexão que o cinema tem provocado nos últimos tempos: será que o marketing é, de fato, tão interessante assim? O tema tem voltado à baila sempre, às vezes com ar de empreendedorismo e outras com toques de feminismo encapsulado em caixa de boneca, mas o marketing e a publicidade viraram algo no cinema.

Scarlett Johansson é a melhor coisa de Como Vender a Lua -- ao lado do gato preto da NASA (Crédito: Sony Pictures)
Scarlett Johansson é a melhor coisa de Como Vender a Lua — ao lado do gato preto da NASA (Crédito: Sony Pictures)

Air até que funciona, BlackBerry tem seus méritos. São filmes sobre empresas e como se venderam, como chegaram no mercado, como perduraram. A inovação é o marketing. Aqui, Berlanti até arranha no discurso de que a inovação é quase sempre marketing e quase chega num ponto muito interessante de questionar o que de fato é inovação e o que é apenas bem vendido — e que, no fim das contas, grandes eventos históricos passaram pelo processo de… marketing.

Mas, infelizmente, Como Vender a Lua não chega em um ponto tão distante. Morre na praia, feliz com o tal romance de pastelaria, feito sob medida para agradar um público que quer apenas coisas confortáveis — como é o próprio marketing, afinal de contas. Vale terminar este texto com mais uma frase de Kotler: “o mais importante é prever para onde os clientes estão indo e chegar lá primeiro”. Fica a pergunta: é para este cinema que os clientes estão indo?

Como Vender a Lua está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

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