Em ‘Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou’, uma reflexão sobre as máscaras do dia a dia Em ‘Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou’, uma reflexão sobre as máscaras do dia a dia

Em ‘Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou’, uma reflexão sobre as máscaras do dia a dia

Diretora Joanna Arnow conversou com o Filmelier sobre influências, medos, ideias e o novo ‘Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou’

Matheus Mans   |  
25 de junho de 2024 10:00
- Atualizado em 26 de junho de 2024 16:22

Ann é uma mulher de Nova York tentando encontrar um propósito, um caminho, algo para se segurar. Afinal, seu trabalho é medíocre, a família é bastante indiferente ao que está acontecendo ao seu redor e seu relacionamento casual de BDSM está completamente estagnado. Como colocar um pouco de cor nessa vida? Como, enfim, mudar?

Essa é a história de Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou (The Feeling That the Time for Doing Something Has Passed), longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 27, com distribuição da Synapse Distribution. Na produção do filme, ninguém menos do que Sean Baker, vencedor da Palma de Ouro em 2024.

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O filme, antes da estreia oficial, passou por um circuito de festivais interessante. Foi exibido no The Directors’ Fortnight, seleção independente de Cannes, em 2023, assim como nos festivais de Munique e Toronto. Também foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Sempre ganhando elogios pelo formato ousado, mostrando a rotina um tanto episódica da personagem, e colocando a diretora, roteirista e protagonista Joanna Arnow em evidência.

“Este projeto foi um trabalho de amor”, disse a cineasta em entrevista. Ela conversou por vídeo com o Filmelier sobre este seu filme, suas ideias, seus objetivos e, também, sobre seus novos projetos.

Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou reflete sobre nossos diferentes 'eus' (Crédito: Synapse Distribution)
Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou reflete sobre nossos diferentes ‘eus’ (Crédito: Synapse Distribution)

Confira a entrevista com Joanna Arnow, diretora, roteirista e protagonista de Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou

Primeiro, me conte: de onde veio a ideia de Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou?

Joanna Arnow: Inicialmente, escrevi várias cenas curtas, cada uma com apenas duas ou três linhas, baseadas em experiências pessoais. Acabei com cerca de 250 páginas. Estava animada para explorar o humor e as interações cotidianas, a maneira como as pessoas falam e seus relacionamentos.

E como foi o processo de reduzir essas 250 páginas para o filme final?

Joanna: Foi inicialmente doloroso. Usei uma extensa planilha de Excel, toda colorida, para rastrear temas, conflitos e motivos específicos que queria explorar ao longo do filme. Foi um trabalho árduo, mas depois deixei isso de lado e fiz uma passagem intuitiva. Essas 250 cenas se tornaram uma paleta da qual eu poderia formular as cinco diferentes seções do filme usando várias regras formais. O trabalho de preparação foi difícil, mas preparou o terreno para o processo intuitivo que seguiu.

E como foi dirigir e atuar ao mesmo tempo? Foi desafiador?

Joanna: Foi emocionante. Este projeto foi um trabalho de amor, e me senti sortuda por desempenhar múltiplos papéis. Aprendi muito sobre o filme através da edição, e dirigir enquanto atuava foi complicado, mas gerenciável com muita preparação. Também tive uma equipe fantástica me apoiando.

Joanna Arnow é a protagonista, roteirista e diretora de Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou (Crédito: Synapse Distribution)
Joanna Arnow é a protagonista, roteirista e diretora de Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou (Crédito: Synapse Distribution)

Seu filme tem um elenco enorme. Como processo de seleção do elenco, especialmente com seus pais, que atuam no filme? Como isso aconteceu?

Joanna: Funcionou de diferentes maneiras. Algumas ideias de elenco vieram de sugestões. Por exemplo, Scott Cohen foi recomendado por um dos meus produtores. Depois de revisar seu trabalho, vi que ele poderia trazer a complexidade e a comédia necessárias para o papel de Allen.

Da mesma forma, outro amigo sugeriu Babak Tafti, e depois de analisar seu trabalho, soube que ele poderia trazer profundidade às cenas centradas em diálogos. Também trabalhamos com uma ótima diretora de elenco, Charlotte Arnoux, que trouxe ótimas ideias e encontrou muitos membros do elenco. Alguns atores eram meus amigos, e meus pais interpretaram os papéis dos pais [de Ann]. Essa mistura de atores profissionais e estreantes visava criar uma teia mais rica de diferentes estilos. De certa forma, meus pais já vinham se preparando para esses papéis há algum tempo.

A história aborda a ideia de que usamos muitas máscaras em nossas vidas diárias – em nossos relacionamentos, trabalho, amigos, etc. Como você vê esse tema e como ele afeta sua vida?

Joanna: Acho fascinante. Acredito que todos nós somos mais de uma pessoa, e essa dualidade era algo que eu queria explorar no filme. Somos consistentes e diferentes dentro de nós mesmos, e quis refletir isso nos arcos dos personagens. Narrativas de filmes convencionais geralmente mostram personagens começando no ponto A e terminando em um ponto B completamente diferente, mas não acho que isso seja verdadeiro na vida real. As jornadas das pessoas e suas interações com a mudança são mais sutis. Busquei um arco de personagem mais realista, onde as mudanças são sutis ou podem nem acontecer. Quanto às máscaras, filmes convencionais frequentemente retratam pessoas como consistentes, mas quis mostrar um personagem que muda dependendo das circunstâncias.

O filme também fala sobre a percepção do tempo. Isso é algo que te preocupa, a forma como o tempo passa?

Joanna: (risos) Sim, a passagem do tempo parece diferente dependendo dos eventos de nossas vidas. Queria mostrar essa percepção subjetiva do tempo baseada nas experiências do personagem e seus estados emocionais. Por exemplo, no início do filme, há cenas elípticas onde oito meses passam de forma chocante, e depois, as cenas se desenrolam em tempo real, dando uma sensação de passagem lenta. Queria capturar como o tempo pode parecer estagnado ou acelerado, refletindo a topografia variada de nossas vidas.

Por fim, o que podemos esperar do seu próximo projeto? Há algo já em andamento?

Joanna: Tenho alguns projetos em desenvolvimento. Estou animada para continuar explorando meus interesses cômicos enquanto também busco novas experiências e desafios.

Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou estreia nesta quinta-feira, 27. Clique aqui para comprar ingressos.

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