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Crítica de 'A Sorte Grande': alcoolismo, polêmica e uma maravilhosa Andrea Riseborough

Originalmente intitulado ‘To Leslie’, ‘A Sorte Grande’ foi a polêmica indicada como Melhor atriz na última edição do Oscar

Lalo Ortega | 23/08/2023 às 12:00 - Atualizado em: 23/08/2023 às 13:40


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Quem quer que tenha estado pelo menos um pouco informado sobre a última edição do Oscar, terá conhecimento da controvérsia em torno de To Leslie (intitulada A Sorte Grande para sua estreia no Brasil o dia 23 de agosto).

A conversa girou em torno do fato de sua protagonista, Andrea Riseborough (vista em Amsterdã), ter conseguido se inserir na corrida pelo prêmio de Melhor atriz por um filme com duas peculiaridades. Primeiro, era um filme independente de orçamento mínimo de produção (segundo várias fontes, menos de um milhão de dólares), e ainda menos para sua campanha ao Oscar. Segundo, praticamente ninguém o viu: após sua estreia no festival SXSW, o filme foi exibido em "cerca de 28 cinemas" nos Estados Unidos.

Assim, A Sorte Grande teve a distinção de se tornar objeto de curiosidade generalizada por um lado, de escrutínio da Academia por outro (a instituição se viu obrigada a revisar suas regras) e de críticas de certos setores que davam mais mérito a Viola Davis (por A Mulher Rei) ou a Danielle Deadwyler por Till. Assuntos para outra conversa.

Mas trata-se do tipo de controvérsia que, no fim das contas, acaba por ofuscar o próprio filme. Agora que A Sorte Grande finalmente chega até nós aqui no Brasil, cabe perguntar: pelo menos é um bom filme?

Do que se trata A Sorte Grande (To Leslie)?

Dirigido por Michael Morris (em sua estreia em longas-metragens após séries como House of Cards e Better Call Saul) e escrito por Ryan Binaco (inspirado na história de sua mãe), A Sorte Grande segue Leslie “Lee” Rowland (Riseborough), uma mulher que ganha 190 mil dólares na loteria, mas os gasta rapidamente em festas e álcool.

Seis anos depois, ela atingiu o fundo do poço: é uma sem-teto alcoólatra, foi expulsa de um motel e, sem outra opção, recorre a seu filho de 19 anos, James (Owen Teague), que a aceita com a condição de que ela não beba.

No entanto, seu alcoolismo não demora a dominá-la e Leslie logo se encontra nas ruas mais uma vez, em uma jornada que a confronta com as consequências de sua autodestruição, mas também com a possibilidade de redenção.

A Sorte Grande é a história de uma mulher que caiu tão baixo que só poderia subir... mas insiste em descer (Crédito: Synapse)

Andrea Riseborough é brilhante

Agora, reservando qualquer comentário sobre o filme em si, é inegável que Andrea Riseborough realiza uma das performances dramáticas mais poderosas do último ano. Ela não fica devendo nada a Lydia Tár de Cate Blanchett e possui muito mais riqueza e complexidade emocional do que suas colegas de categoria.

A indicação de Riseborough por To Leslie é, na verdade, um reconhecimento tardio e não tão necessário para uma das atrizes mais interessantes atuando hoje em dia. A camaleônica Riseborough transitou por gêneros tão diversos como o musical queer em Please Baby Please; o terror cósmico de Mandy, o drama romântico de Um Inverno em Nova York e o horror corporal de Possessor, para citar apenas alguns títulos. Em todos eles, ela foi fenomenal.

A atriz usa o roteiro como sua plataforma, que, enraizado no pessoal, se concentra no emocional e psicológico de sua protagonista. A Sorte Grande não nos explica por que Leslie é mãe solteira, por que ela se tornou alcoólatra ou como exatamente ela gastou o dinheiro da loteria.

Sem estar ancorada a um contexto tão específico, Leslie se torna uma personagem com a qual é mais fácil se identificar. Riseborough não suaviza, de forma alguma, seus aspectos mais terríveis. No entanto, ela consegue nos fazer sentir a brutal contradição do alcoolismo, a espiral autodestrutiva de alguém que quer ser e se sentir melhor, mas não conhece outro método senão empinar a garrafa. Ela não consegue evitar.

O roteiro de Binaco e a direção de Morris - apoiados por uma excelente edição de Chris McCaleb (Breaking Bad) e pela cinematografia de Larkin Seiple (Tudo Em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) - nos entregam uma história na qual a protagonista vagueia sem rumo, como uma folha arrastada pelo vento de sua própria miséria. Felizmente, mais do que cair no miserabilismo sórdido, A Sorte Grande consegue equilibrar as coisas entre a possibilidade de redenção e a frustrante incapacidade de Leslie de aproveitá-la.

E nesse sentido, o restante do elenco realiza um trabalho interpretativo tão rico quanto o de Riseborough, mesmo que o roteiro não conceda tanta complexidade aos personagens. Para Allison Janney (Eu, Tonya), interpretar uma figura materna cruel e ferida é tão natural quanto respirar, e Marc Maron (Coringa) evoca o lado mais sombrio de sua história pessoal para criar uma figura compassiva muito necessária no caminho da protagonista.

Marc Maron dá ao enredo de A Sorte Grande um contraponto simpático e necessário (Crédito: Synapse)

Dito isso, o filme se baseia em tantas generalidades que acaba se sentindo um tanto clichê e, consequentemente, muito semelhante a tantas outras histórias de redenção. Também se poderia questionar o tratamento das motivações da própria Leslie: sua grande motivação para ficar sóbria acaba sendo o relacionamento com seu filho. A maternidade da personagem é colocada num pedestal, e ela sofre por não estar nele.

Embora a motivação pessoal do roteirista seja compreensível e, nesse sentido, o resultado seja profundamente humano, ampliado pelo espetacular trabalho de Andrea Riseborough. Os filmes são mais do que a atuação de seus atores, mas neste caso, a performance principal vale todo o preço do ingresso.

A Sorte Grande (To Leslie) já está nas plataformas de streaming brasileiras. Clique aqui e descobra todos os links para assistir.

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Lalo OrtegaLalo Ortega

Lalo Ortega é um crítico mexicano de cinema. Já escreveu para publicações como EMPIRE em español, Cine PREMIERE, La Estatuilla e mais. Hoje, é editor-chefe do Filmelier.

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Lalo Ortega é um crítico mexicano de cinema. Já escreveu para publicações como EMPIRE em español, Cine PREMIERE, La Estatuilla e mais. Hoje, é editor-chefe do Filmelier.

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