O diretor grego Yorgos Lanthimos ('O Lagosta') retorna com 'Pobres Criaturas', uma nova e virtuosa colaboração com a atriz (e agora produtora) Emma Stone e o roteirista Tony McNamara (com quem trabalhou em 'A Favorita'), baseada no romance homônimo de Alasdair Gray. Esta adaptação utiliza a premissa central do romance - construída por depoimentos opostos de diferentes personagens - para criar uma fabulosa e ácida fábula steampunk vitoriana sobre feminismo, inspirada em Frankenstein. A trama começa quando o cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe), para reviver uma mulher grávida (Stone) que decidiu cometer suicídio, transplanta o cérebro de seu bebê não nascido e a reanima. O resultado é uma pessoa nova, com a mente de um bebê - livre de tabus, vergonha, culpa e com muita vontade de aprender - mas com o corpo de uma mulher sexualmente madura, cuja fome por experiências a leva a fugir com um advogado libertino (Mark Ruffalo). Embora seu magnífico e artificioso design de produção possa superar suas ideias, em alguns momentos, 'Pobres Criaturas' é um filme que levanta ideias interessantes sobre a libertação feminina, evidenciando a fragilidade das convenções patriarcais com o humor ácido e macabro típico das produções de Lanthimos. E, é preciso dizer, Emma Stone está fenomenal: é a atuação mais arriscada, provocativa e audaciosa em sua distinta carreira. Leia mais em nossa crítica completa de 'Pobres Criaturas'.
Anatomia de uma Queda é um dos grandes títulos da temporada de premiações de 2024. Ainda que não tenha sido o escolhido da França para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o filme conseguiu trilhar sua própria carreira fora da categoria. Não é pra menos: este filme de Justine Triet fala sobre a morte de um homem, que cai do segundo andar de sua própria casa. O que aconteceu? Ele se jogou dali, foi empurrado? A partir daí, a esposa Sandra (Sandra Hüller) entra em um furacão, sendo acusada pela promotoria e tendo que se defender. Triet não está realmente interessada aqui em encontrar o culpado ou dar respostas, mas questionar a busca pela verdade. Afinal, o que é a verdade? Quem é o dono da verdade? São questionamentos que o filme traz e o faz engrandecer. Destaque para a atuação de Hüller, que consegue trazer essa complexidade em sua atuação.
Diante do ingrato desafio de tentar produzir uma obra com engenho e coração dentro dos limites de uma propriedade intelectual corporativa tão grande como a boneca Barbie da Mattel, a diretora e co-roteirista Greta Gerwig (Lady Bird) sai, no geral, bem-sucedida. Inspirado por referências tão diversas como "O Mágico de Oz" e "O Show de Truman", a estreia cinematográfica da icônica boneca é uma divertida comédia que segue uma Barbie (Margot Robbie) que precisa viajar para o mundo real para descobrir o que a está tornando imperfeita no mundo utópico de Barbieland. No entanto, logo descobre que a invenção das Barbies não foi a panaceia feminista que elas mesmas imaginavam e que o mundo real é exatamente o oposto do que vivem em seu mundo utópico. Divertido, engenhoso e com comentários incisivos sobre o patriarcado, é uma proposta entretenida de blockbuster que quase (QUASE!) consegue nos fazer esquecer que é um enorme comercial da Mattel. Leia mais em nossa crítica completa de Barbie.
Diante de uma consciência racial mais esclarecida, mas que acaba caindo em uma correção política vazia diante das mandíbulas vorazes do consumismo; as dinâmicas raciais e suas nuances, complexidades e contradições se tornam uma caricatura de si mesmas. Ficção Americana (American Fiction) indicado ao Oscar de 2024 na categoria de Melhor Filme, é uma brilhante exploração de uma afirmação tão espinhosa. A trama segue Thelonious "Monk" Ellison (Jeffrey Wright em um de seus melhores papéis), um professor e escritor afro-americano cuja carreira estagna porque seus livros não são "negros" o suficiente. Então, o que ele faz? Adota um pseudônimo e escreve um romance satírico que busca expor a hipocrisia do mundo editorial e de nossa cultura... mas o mundo o ama por todas as razões erradas, e sua popularidade sai de controle. É uma sátira hilariante que aborda questões complicadas com sagacidade e humor, convivendo confortavelmente com outros títulos como Sorry to Bother You e alguns filmes na filmografia de Spike Lee. O elenco está mais do que à altura: Tracee Ellis Ross, Sterling K. Brown, Issa Rae e Keith David são alguns dos nomes que adornam esta produção.
Um daqueles filmes queridinhos da temporada de premiações, em 2024, Os Rejeitados acompanha a história de um professor (Paul Giamatti, genial), de uma cozinheira em luto (Da'Vine Joy Randolph) e um aluno problemático (Dominic Sessa) que ficam juntos durante as festas de final de ano, quando todos os outros alunos, professores e funcionários vão para casa – eles, porém, precisam ficar ali já que não há para onde esse rapaz ir. Bem dirigido por Alexander Payne (de filmes acima da média como Nebraska, Sideways e Os Descendentes), o longa-metragem consegue emocionar com a história desses personagens que parecem rejeitados pela vida, mas que se encontram em suas diferenças – ainda que o roteiro faça questão de mostrar que há mais semelhanças do que diferenças entre esses três personagens. Joy Randolph e Sessa estão bem, o filme é todo de Giamatti, que entrega uma atuação emocionante, mas também engraçada, desse professor odiado pelos alunos e com excentricidades inesperadas. Só não espere um A Sociedade dos Poetas Mortos: o filme é mais sobre relações humanas do que sobre ensinamentos de professores.