O terror corporal ganhou em 2024 um dos seus melhores exemplares desde Titane com A Sustância, da diretora francesa Coralie Fargeat, premiada como Melhor Roteiro no Festival de Cannes. Em uma abordagem semelhante a O Retrato de Dorian Gray (mas com outros tons de política feminista), o filme narra as medidas extremas que uma apresentadora de um programa de fitness na TV (Demi Moore) está disposta a tomar para recuperar as glórias reservadas por uma indústria machista para mulheres mais jovens e atraentes. Após uma injeção de procedência duvidosa, seu lugar é ocupado por uma versão mais jovem e bela de si mesma (Margaret Qualley), com uma vontade de viver e conquistar o mundo típica de sua idade. Não demora para que o delicado equilíbrio entre ambas se rompa (uma representação engenhosa da dismorfia e do etarismo), com resultados cada vez mais grotescos, brutais e, acima de tudo, divertidos.
O terror latino-americano também tem dado muito o que falar nos últimos anos, e um dos melhores filmes de terror de 2024 vem da Argentina. Em O Mal que Nos Habita, as barreiras entre o horror sobrenatural e o ódio mundano se desfazem, quando dois irmãos devem lutar para sobreviver e proteger sua família enquanto seres infectados por demônios, os "embichados", começam a proliferar e trazer à tona o lado mais sombrio dos habitantes de uma cidade no interior da Argentina rural. Não há muitos filmes mais desoladores que este.
Evidentemente realizada com um orçamento mínimo, Eu Vi o Brilho da TV demonstra que o importante é uma visão única para alcançar um resultado que, francamente, só pode ser descrito como emotivo, surreal, hipnótico, bizarro e aterrorizante, no mais puro espírito lynchiano. A história segue dois amigos (Justice Smith e Brigette Lundy-Paine) que se conectam pela sua paixão por um programa de TV, que os leva a descobrir sua verdade interior. Não só é um dos melhores filmes de terror de 2024, mas também é um dos melhores de temática LGBTQIA+.
Também há momentos em que o que esperamos de um filme de terror é pura diversão. Nesse sentido, não há filme de terror melhor em 2024 do que Abigail, de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, a dupla de diretores responsáveis também pelo genial Casamento Sangrento e pelos novos Pânico. Nesta história, um grupo de criminosos sequestra a pessoa errada: uma garota que, na verdade, é uma vampira centenária perigosa, disposta a eliminar seus captores por diversão, de maneiras tão brutais quanto hilárias. O filme oferece risos e sustos na mesma medida, aproveitando para satirizar as convenções mais absurdas do cinema de vampiros.
A conclusão da aclamada Trilogia X de Ti West, protagonizada por Mia Goth (precedida por X e Pearl), é, por si só, um excelente thriller de terror, que coloca a protagonista Maxine Minx na mira de um perigoso assassino em série, enquanto tenta deixar para trás seu passado como atriz de filmes adultos para se tornar uma estrela de Hollywood. Mas MaXXXine é mais do que isso: também é um comentário sobre como a cultura audiovisual – e o próprio cinema de terror como parte dela – perpetua estereótipos e duplas morais sobre os corpos femininos, presos entre valores retrógrados que cedem convenientemente à exploração e gratificação. Naturalmente, há abundância de referências aos grandes clássicos do terror, sobre os quais se constrói uma esquizofrenia coletiva americana.