Uma linda animação francesa em stop-motion, que revela o mundo através dos olhos de uma criança e aborda temas como o amor e o abandono. A história - sobre um filho que perde a mãe e vai viver com outros órfãos - tem o seu lado dramático e emotivo, mas a forma com que é retratada traz uma grande delicadeza, coração e bom humor.
Na superfície, ‘First Cow: A Primeira Vaca da América’ é um filme simples. Acompanhamos a história de um americano (Cookie, vivido por John Magaro) que conhece um homem chinês (King-Liu, por Orion Lee) durante uma expedição no coração dos Estados Unidos no século XIX. No entanto, logo a diretora Kelly Reichardt (‘Wendy e Lucy’) coloca uma vaca nessa equação. Isso mesmo. Tal qual o animal que cai dos céus em ‘Um Conto Chinês’ se torna um catalisador para algo maior, em ‘First Cow’ o mesmo acontece. Só que, neste caso, a vaca acaba sendo a fonte de dinheiro de Cookie e King-Liu, que roubam leite dessa primeira vaca da região -- que é de propriedade de um rico empresário (Toby Jones). A partir daí, acompanhamos dois efeitos interessantes. Primeiramente, como a amizade desse americano e desse chinês (talvez representando a força de uma parceria comercial dessas duas potências) é forte, resiliente, complementar. Um sabe cozinhar, outro tem a experiência da gastronomia e do comércio. Do outro lado, com esses roubos insistentes do leite do rico empresário, vemos Reichardt colocar o pilar do capitalismo em xeque. Afinal, o que acontece quando um bem, geralmente sob propriedade de uma só pessoa ou empresa, é explorado por trabalhadores diversos, com ideias e criatividade ao máximo? É isso que vemos brilhantemente retratado na tela, numa trama lenta e contemplativa, mas poderosa.